quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O SOVIETE DA EDUCAÇÃO OU AS ONZE PRAGAS DO EGITO


O escritor Monteiro Lobato e uma de suas criações mais célebres: a boneca Emília.

A decisão unânime do Conselho Nacional de Educação (CNE) de enxergar "racismo" no livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, é a prova de que o (pseudo) conceito do politicamente correto está para o mundo moderno assim como as dez pragas do Egito estiveram para o faraó Ramsés II na era de Moisés.

Nunca se viu tanto interferência dos sovietes petistas sobre o que é ou não recomendável para a leitura de "nossas crianças". Com o risco de ser redudante, gostaria de lembrar que a preocupação, se existe, deveria ser mais com a indigência do ato de ler no país. Este sim um desafio a ser encarado pelas autoridades educacionais com a devida seriedade.

Agora se "Tia Nastácia subiu no tronco de uma árvore com a agilidade de um macaco", francamente... Macacos são ágeis mesmo ao subir árvores. É do seu métier. Portanto, pouco se me dá se Tia Nastácia fosse branca ou preta, não é mesmo? Se há "racismo", ele vem da cabeça da integrante do soviete, cujo nome, se não me falha a memória, é Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais.

O livro, na interpretação de dona Nilma e do restante dos doutos do soviete, segundo publicado no Diário Oficial da União, só poderia ser usado "quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil". Valha-nos.

Por esse conceito, qualquer estereótipo literário que inclua raça, religião, situação econômica, debilidade física ou mental, etc. estará seriamente ameaçado, ora em diante, pelo soviete da Educação.

Alguém lembrou de Shakespeare, cuja obra, de leitura complexa, certamente deve ter sido evitada por cabeças tão edulcoradas como a do Conselho Nacional de Educação. Pois a peça é acintosamente anti-semita. Será que vai para o índex também de nossos censores? Ou necessitará da devida transferência teórica aos mestres acerca do significado do judeu na história quinhentista e seiscentista?

E quanto às elites tão criminalizadas no governo Lula? Não são elas vítimas nos romances de nossos escritores, ora pagando por seus desatinos perdulários, ora triunfando sobre a plebe ignara e humilde?

De qualquer maneira, trata-se de um estereótipo e que não deve soar bem à compreensão dos nossos leitores de primeiras letras, mesmo quando o janota é devidamente castigado pela ultrajante condição de ser... rico.

Mais um pouco e estaremos queimando os livros como fizeram os nazistas e os stalinistas, em períodos recente, e também a igreja e os povos bárbaros em eras anteriores.

Não se trata de exagero. Em 2009, o vereador Jair Brugnago (PSDB), de União da Vitória, no Sul do Paraná, retirou da estante da biblioteca da Escola Estadual São Cristóvão, onde é diretor, dois livros indicados a estudantes do ensino médico, sem consultar a Secretaria de Educação ou outra autoridade do setor. Sua decisão foi pessoal e baseou-se no fato de que as obras seriam "inadequadas".

Tratava-se de "Amor à Brasileira", uma coletânea de contos nacionais, entre eles um de autoria do curitibano Dalton Trevisan, e "Um Contrato Com Deus - e Outras Histórias de Cortiço" do desenhista americano Will Eisner (1917-2005), cujo nome fez com que a História em Quadrinhos alcançasse o patamar de arte.


Capa de "Um Contrato de Deus", de Will Eisner, que narra histórias da infância do desenhista norte-americano: livro foi vetado no interior do Paraná.

Está claro que o obtuso vereador de União da Vitória não tinha ideia do que carregava nas mãos. Sua preocupação era com os temas e com o linguajar chulo contido nas obras. Além do fato de ter desprezado a informação do público-alvo - alunos do ensino médio - , Brugnago atropelou o limite da própria autoridade ao vetar os livros e tomar para si o papel de guardião da civilidade. É típico que isso ocorra em regimes totalitários, onde o vigilante do quarteirão é a polícia, a Justiça e o delegado da Moral e dos Bons Costumes. Não em democracias.

No mesmo ano, triste 2009, também foram recolhidos, em diversas escolas públicas de Santa Catarina, exemplares da obra "Aventuras Provisórias", do catarinense Cristóvão Tezza, radicado em Curitiba, aparentemente por conter termos que um pai utiliza em seu vocabulário e permite que o filho também o faça até desbragadamente. Mas nunca em letras tipográficas - se é que você entende (eu não).

É caso de preocupação? Talvez não. Talvez sim. Tratam-se de fatos isolados? Talvez não. Talvez sim. Mas como diz aquela frase devidamente malhada e nunca esquecida: "O preço da liberdade é a eterna vigilância". Pois é.

1 comentários:

evisto 5 de novembro de 2010 às 11:59  

Fico feliz pela visita ao meu blog e parabéns para o seu blog.

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