sábado, 16 de outubro de 2010

DILMA E O PERJÚRIO ELEITORAL OU "O CONTO DO VIGÁRIO"


Dilma fala a lideranças evangélicas e cristãs antes do primeiro turno: desdizendo o que antes era convicção.

Fernando de Barros e Silva reproduziu, na sexta-feira (15), em coluna na “Folha de S. Paulo”, o diálogo travado entre Boris Casoy e Fernando Henrique Cardoso, durante debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, em 1985.

Já havia me referido a esse mesmo episódio em post anterior (clique aqui), defendendo o questionamento do jornalista.

Não há regra que determine que os candidatos a cargos públicos sejam desobrigados de responder a questões de cunho moral. Da mesma forma afirmei que a presidenciável Dilma Rousseff (PT) tinha todo o direito de ser favorável à descriminalização do aborto. O que não se esperava é que ela mentisse sobre o tema. Reproduzo, abaixo, o diálogo entre Boris Casoy e FHC e comento em seguida:

Boris Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
FHC - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
FHC - Perdão, foi num almoço, sobre esse mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não faria.
FHC - É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de quem quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao senhor Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.
Casoy - A pergunta não foi respondida. Não se trata de armadilha, nem de convicção pessoal.


Barros e Silva diz que a petista Dilma Rousseff abriu todas as “concessões ao lobby religioso” ao desdizer o que havia dito. Às vésperas do primeiro turno, quando os indicadores já afirmavam que a vitória no primeiro turno já lhe escapara pelos dedos, Dilma reuniu entidades cristãs e evangélicas para aplicar, literalmente, o “conto do vigário”. Negou o que, até então”, fazia parte do seu cardápio de convicções, ainda que sejam morais.

A cereja no bolo veio com a “Mensagem da Dilma” (aqui), carta publicada sob pressão de grupos religiosos, também na sexta-feira (15), em que a candidata petista reafirma a sua posição contrária ao aborto e se compromete a não alterar itens do PNDH-3 que possam ir de encontro aos preceitos da igreja. Trata-se, obviamente de um perjúrio eleitoral. Se afirmasse isso, no ambiente de um tribunal, Dilma certamente seria presa.

Barros e Silva, contudo, achou conveniente, à guisa de equilíbrio democrático, acusar também o tucano José Serra de arrastar o “cortejo do atraso” para o centro do debate político. Nesse caso, trata-se de perjúrio jornalístico. Até que o “aborto” ganhasse a mídia, no início do segundo turno, toda a discussão estava centralizada em blogs e sites cristãos, como este escriba pôde comprovar ao pesquisar se Dilma havia mesmo dado declaração a um repórter, em Minas Gerais, dizendo que “nem mesmo Cristo querendo” tiraria a sua vitória no primeiro turno. Nada se encontrou para corroborar essa afirmação, como também sua origem.

Por isso a afirmação de que Serra seria um neocarola, como quer Barros e Silva, soa forçada. Se o assunto veio à tona foi consequência da mentira de Dilma e da posição tomada pela sua coordenação de campanha ao reunir evangélicos e cristãos para que ela negasse o que era, até então, uma convicção.

Serra, ao que se saiba, não tocou no assunto no primeiro turno. Nem mesmo Marina Silva, uma evangélica com posições claras contra o aborto e o casamento entre homossexuais. A petista, portanto, enforcou-se com seu próprio laço e agora corre para atribuir à oposição a disseminação de boatos que, em verdade, são fatos. Eis a contradição intransponível de Dilma.

Quanto ao argumento de que o procedimento não deveria estar no centro da disputa política, parece irônico. Em três meses e meio de campanha, passou-se ao largo dos principais temas da pauta nacional. Se o aborto, uma questão moral, atrai agora a atenção de candidatos e eleitores, isso só dá prova da pasmaceira em que nos encontramos.

O tema precisa ser discutido? Sim. Mas de forma ampla, envolvendo toda a sociedade. Aos que se declaram “não-obscurantistas” e favoráveis ao procedimento, vale lembrar que implementar o aborto na rede pública de saúde demanda investimentos de monta, que vão além do atendimento laboratorial. É preciso que os Postos de Saúde, por exemplo, sejam equipados com pequenos centros cirúrgicos.

Daí levanta-se a questão: não seria melhor, antes de tomar tal medida, levar a cabo uma ampla campanha sobre a importância do uso de contraceptivos e, assim, diminuir o número de casos por ano, que passam de 1 milhão?

Longe deste escriba negar o direito da mulher ao aborto, mas é preciso que ela tome conhecimento que tal procedimento é invasivo e gera sequelas – físicas e psicológicas. Há alguns anos, ainda em São Paulo, recebi a tarefa de fazer uma reportagem sobre clínicas clandestinas de aborto e ouvi uma paciente, ainda sob o efeito da anestesia, indagar ao marido: “Era menino ou menina?” Perceberam aonde quero chegar?

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