TSE É O JORGE DE BURGOS DAS ELEIÇÕES
Tina Fey incorpora a vice republicana Sarah Palin no humorístico "Saturday Night Live": impagável.
Quem se recorda da campanha que elegeu o democrata Barack Obama à presidência dos Estados Unidos, há de se recordar também do escracho que os programas humorísticos dedicaram a Sarah Palin, a governadora do estado do Alasca e vice na chapa do republicano John McCain.
Palin foi o prato principal do humorístico “Saturday Nigh Live”, que reconvocou Tina Fey, ex-roteirista do programa e sósia de Palin, para dar mais “realismo” às piadas.
Em um dos esquetes Palin (Tina Fey) é entrevistada por Amy Poehler e revela sua total ignorância sobre a finalidade da ONU após visitar sua sede:
“Foi fantástico. Tantas pessoas interessantes. Mas fiquei decepcionada, pois muitos deles são estrangeiros. Prometo que, quando eu e o senador McCain estivermos eleitos, nós vamos devolver estes empregos aos americanos!”
Foi mesmo um prato cheio para os comediantes. Qualquer comediante. A pouca experiência de Palin, que estava há menos de dois anos no governo, seu histórico como mãe de família, caçadora e ex-candidata a Miss Alasca eram material inesgotável para sátiras.
Pois o que é bom para os Estados Unidos, ao menos nesse caso, deveria ser bom para o Brasil. Isso se o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pensasse assim. Que nada.
Invocando o que foi estabelecido na resolução 23.191 de setembro do ano passado, ou seja, há menos de nove meses, Lewandowski incorporou o Torquemada e resolveu banir todo e qualquer humor que “degrade ou ridicularize candidato, partido político ou coligação”.
Fulos da vida, os humoristas do Casseta & Planeta radicalizaram. Diante da censura (sim, a palavra é essa mesma) decidiram expurgar todos os candidatos e partidos dos quadros satíricos, limitando-se às siglas ficcionais como o Partido do Polvo Profeta.
E não é para menos. Na resolução do TSE, constam multas pesadíssimas que vão de 20 mil a 100 mil Ufirs (unidade fiscal do imposto de renda), duplicadas em caso de reincidência. Tem mais: Lewandowski fez questão de lembrar que as emissoras são concessões, sujeitas, portanto, ao bom humor dos governantes. Hugo Chávez fez escola.
Trecho do filme "O Nome da Rosa", baseado no livro de Umberto Eco: o monge não deve rir.
Lewandowski não é só Torquemada, o inquisidor espanhol. É também o Jorge de Burgos do romance “O Nome da Rosa” de Umberto Eco, que ao descobrir que o livro II de Aristóteles enaltecia o riso, tratou de derramar veneno na extremidade de suas folhas. Assim, os padres beneditinos que ousassem ler o livro e molhassem os dedo indicador na ponta da língua para virar as páginas, morreriam envenenados.
Burgos, assim como Lewandowski, não admitia o riso, e rejeitava qualquer ideia de que Jesus Cristo pudesse, um dia, ter gargalhado às escâncaras.
O ministro do TSE é da mesma opinião. Não admite que candidatos de qualquer esfera sejam maculados com a sátira e o riso, tal a seriedade do pleito que se avizinha. Seria cômico não fosse trágico.
Dilma Rousseff, a candidata do PT, somou até agora 7 multas que resultaram em R$ 33 mil. Serra (PSDB) foi multado 5 vezes, o que equivale a R$ 25 mil. Pois em nenhum desses casos, a Justiça Eleitoral considerou duplicar a multa em caso de reincidência. Mas o faz no caso de um eventual pecadilho dos humoristas de TV e rádio.
Em “O Nome da Rosa”, Burgos tem um final trágico. Descoberto por William de Baskerville – uma espécie de Sherlock Holmes da Idade Média – ele alimenta-se em parte das páginas do livro de Aristóteles e o restante é consumido pelas chamas que, no final, destroem a abadia.
Ainda deglutindo as páginas, Burgos justifica o seu ato: “O que aconteceria se devido a este livro, os eruditos declarassem ser permitido rir de tudo?” A preocupação de Burgos reside no fato de que a defesa do riso por Aristóteles seria considerada uma prerrogativa pelos cultos, o que fugiria ao controle da doutrina da fé e da Igreja Católica.
Dilma ameaça, mas não dança o "Rebolation". Ela ainda chega lá. Ou não?
Lewandowski concordaria. Para ele, a degradação dos candidatos deve ficar reservada ao período pré ou pós-eleitoral. Dilma Rousseff, por exemplo, já se comprometeu com o humorístico Pânico na TV a dançar o “Rebolation”, caso seja eleita presidente da República. É uma degradação que não se pode perder. Nem deixar de rir.
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