AVE RIVALDO!

O meia Rivaldo: melhor jogador do mundo em 99 e camisa 10 da seleção pentacampeã em 2002, ele fez do futebol uma arte.

Aos 38 anos, o meia Rivaldo segue em franca atividade. Desde o fim do ano passado, atua no Bunyodkor do Uzbequistão, cujo vizinho de maior envergadura é o Cazaquistão, país impiedosamente satirizado pelo ator Sacha Baron Cohen em seu “Borat – o Segundo Melhor Repórter do Cazaquistão”. Não se sabe se Rivaldo assistiu o filme e se assistiu deve ter se divertido às escâncaras com os exageros hilários de Cohen.

Quando chegou ao Uzbequistão, Rivaldo também foi tema de piada por parte de amigos e detratores. Até que um dia o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, assumiu a equipe. Aí então as risadinhas cessaram.

No auge de sua fama, em 2001, quando já atuava pelo Barcelona, Rivaldo foi criticado por sua atuação na seleção brasileira e denunciou o preconceito de parte da imprensa contra os “nordestinos”. Ele havia feito gols mágicos no time espanhol. Tão mágicos que frequentam qualquer antologia de gols maravilhosos exibidos pelos clube catalão aos turistas em seu museu do futebol. Serve para que os visitantes adquiram mais badulaques e camisas do time.

Rivaldo jogou as Copas de 1998 e 2002 – quando sagrou-se pentacampeão pela seleção brasileira – e foi solenemente esquecido por Carlos Alberto Parreira em 2006 quando ainda contava 34 anos de idade, tal como Lúcio, o zagueiro que acaba de disputar a Copa da África do Sul sob a batuta capenga de Dunga.

Em seu twitter (@rivaldooficial), Rivaldo parece não guardar mágoas. Elogiou as seleções, o técnico Dunga, os jogadores brasileiros e a organização da Copa. Em férias na temporada, costuma relatar os seus treinamentos para manter-se em forma. Afinal, não é mais o meia-atacante que encantou os clubes quando surgiu no futebol paulista, jogando pelo Mogi-Mirim.

Antes, Rivaldo havia, literalmente, comido a farinha que o diabo amassou. Nascido em Paulista, na região metropolitana de Recife (PE) em 19 de abril de 1972, ele teve que enfrentar o preconceito e vencer a timidez para conseguir um lugar no Santa Cruz, clube que o revelou em 91.

Três anos depois, aos 22 anos, sagraria-se campeão brasileiro, pelo Palmeiras, e em mais oito, tornaria-se bicampeão espanhol pelo Barcelona e também o melhor jogador do mundo, título conferido pela Fifa. Na votação dos 140 treinadores, Rivaldo obteve 91 votos ante 18 do inglês David Beckham (Manchester United), que, à época, ainda não ostentava o seu metrossexualismo, e nove votos conferidos ao argentino Batistuta, da Fiorentinha. Uma vitória arrasadora, portanto.

Apesar da premiação e do reconhecimento, Rivaldo nunca foi uma unanimidade entre os “especialistas”. O holandês Louis Van Gaal, técnico do Barcelona, tirou-o até do banco de reservas em pelo menos três ocasiões. Tudo porque o jogador teria reclamado de atuar na ponta esquerda, quando era um meia-atacante nato (o arco e a flecha), capaz de alcançar um companheiro num lançamento de 30 metros. De todas as opiniões, a mais balizada é a de Tostão, colunista da "Folha de S. Paulo" e centroavante da seleção tricampeã de 70. “Ele não sabe tocar a bola de primeira e não consegue jogar sem olhar para a bola, como faziam os grandes craques da história do futebol. É um excepcional jogador, mas não é um gênio do futebol”.

Pois o mesmo Tostão teria oportunidade de mudar de opinião, em 2002, quando, ao lado deste escriba, viu Rivaldo comandar a seleção de Scolari com passes magistrais e tornar-se o melhor jogador daquela Copa. Luiz Felipe Scolari guarda essa opinião até hoje, ainda que o título tenha sido conferido a Ronaldo. Uma lástima. O Fenômeno não precisava, Para Rivaldo, era uma afirmação necessária.

Ainda assim, Rivaldo continua. Do Uzbesqistão para onde? Este escriba gostaria de vê-lo encerrar a carreira no Palmeiras, mas os clubes parecem repudiar esse tipo de homenagem. Rivaldo não é um possesso, como diria Nelson Rodrigues, mas certamente fez do futebol uma arte. Duvida? Os vídeos estão aí para confirmar.