DÓI, UM TAPINHA NÃO DÓI
Lula: preocupado com as agressões domésticas, mas esquecido das agressões à legislação eleitoral em benefício de Dilma: haja "chicotada".
Um tapinha não dói? Claro que dói. O funk do Furacão 2000 fez sucesso, mas era machista até o talo e, se não me engano, recebeu uma multa de R$ 500 mil da Justiça de Porto Alegre. Certamente a produtora recorreu e não pagou, mas isso não vem ao caso.
O tapinha de que se trata aqui são vários. A começar pelo projeto enviado pelo presidente Lula ao Congresso que torna mais rígido um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), punindo os pais que surrarem os filhos. O que diz Lula? Que "punição e chicotada" não resolvem nada e que nunca bateu nos filhos dele.
O projeto de lei, por si só, é polêmico e, creia, dispensável. Há artigos no ECA e no Código Penal que já prevêem penas – inclusive com cadeia – para pais que agirem com violência contra seus filhos. Lula deveria saber disso, mas, como sempre, segue mal assessorado. Se ele acha que um tapa no bum-bum do filho vai gerar denúncia e lotar os xilindrós do país prepare-se para uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), pronta para transformar em pó a interferência do Estado e a pretensão do pai-presidente. Até especialistas de menor envergadura concordam que o "tapa corretivo" é sim, eficaz, na educação dos filhos, assim como o uso da palavra NÃO. O resto é perfumaria para agradar eleitor.
De outro modo, se Lula pretende mesmo diminuir as "agressões e chicotadas" que trate de controlar as que comete contra a lei em vigor e que estão longe de ser metafóricas. O presidente petista acaba de infringir um ato de violência contra a legislação eleitoral ao afirmar, ontem (13), que o "sucesso" do trem-bala que ligará o Rio a São Paulo é de responsabilidade da presidenciável petista Dilma Rousseff. Um tapa e tanto.
Hoje (14), Lula desculpou-se, mas era tarde demais. A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, já orientara seus assessores técnicos para analisar a declaração de Lula. Dependendo do relatório que vier a ser produzido, há em tese a possibilidade de abertura de um processo de impugnação da candidatura de Dilma. Vide como o tapa doeu.
Lula não se emenda. Dilma não se emenda. Os dois rezam na mesma cartilha de que "tudo vale a pena quando a multa é pequena". Mas os confrontos de Lula com o Judiciário estão a ponto de desmoralizar este último e aí o PT pisa em terreno minado.
Se é o caso de fazer com que a democracia se lixe, é bom que Lula se espelhe no que andou dizendo sobre os dissidentes cubanos quando esteve na terra dos irmãos Castro, em março. Na ocasião, Lula criticou o dissidente Orlando Zapata por ter morrido no cárcere e fechou os olhos para greve recém-iniciada pelo preso de consciência Guillermo Fariñas. Registre-se textualmente o que disse o presidente petista:
"Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra greve de fome porque já fiz greve de fome".
"Eu acho que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade".
"Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos. Cada país tem o direito de decidir o que é melhor para ele. Não vou dar palpites nos assuntos de outros países, principalmente um país amigo".
Que "punição e chicotada" Lula não aplicou nos ideiais dos presos cubanos que, então, esperavam uma declaração de apoio de quem consideravam um democrata? Foi uma surra e tanto.
Vale a pena lembrar da declaração de Oscar Arias, presidente da Costa Rica e prêmio Nobel da Paz ao jornal El País que, confrontando o besteirol oportunista de Lula, afirmou lucidamente: "Não existem presos políticos nas democracias. Em nenhum país verdadeiramente livre alguém vai para a prisão por pensar de modo diferente".
Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim dizem que agiram na surdina para ajudar Gullermo Fariñas, em greve há 135 dias, e outros 50 presos de consciência cubanos: "agressão e chicotada" à inteligência.
Lula mente quando diz que fez greve de fome. No máximo fez um jejum durante os trinta dias que ficou preso durante o regime militar. Mentem também, agora, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) ao afirmar que agiram na "surdina" para libertar os cerca de 50 presos políticos de Cuba, que serão enviados para a Espanha, e também Fariñas, que interrompeu uma greve de fome que já durava 135 dias. Afirmação como esta é uma "agressão e uma chicotada" em qualquer ser de mínima inteligência, afora as amebas (e aí deixo os petistas à vontade).
Se não bastasse isso, Lula ainda cometeu uma licença poética (e religiosa) ao afirmar, também nesta quarta-feira (14) que, em seu governo, realizou a "multiplicações dos pães". Eu cá na minha insignificância preferia que as "agressões e as chicotadas" verbais de Lula ficassem restritas ao seu mundinho de futebol. Que ele volte ao seu "curintia" e às suas frases geniais do tipo "em time que está ganhando não se mexe". Do ponto de vista do estadista, é um tapinha que dói. Mas dói bem menos.
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