segunda-feira, 26 de julho de 2010

ADEUS JORNAL DO BRASIL, SEM LÁGRIMAS


Nelson Tanure, que arrendou o Jornal do Brasil da família Nascimento Britto em 2001: "Midas Ao Contrário".


Jornal do Brasil em formato "berliner": queda de tiragem de 100 mil para 20 mil exemplares. Agora ele deixa de ser moderno para ser internético.

Na semana passada, uma foto de jornal mostrava gatos pingados do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) com faixas mambembes em frente à sede do “Jornal do Brasil”, que acaba de anunciar o fim de sua edição impressa.

A maioria dos manifestantes sequer pisou em uma redação de jornal. No caso da Fenaj, o caso é mais gritante. Todos, sem exceção, são empregados em luxuosos cargos de assessor de imprensa em sindicatos e centrais sindicais e desconhecem termos como pauta ou vigília noturna, a não ser no PCdoB – o Partido Comunista do Botequim.

A derrocada do “Jornal do Brasil”, ainda que a tradição jornalística o preceda, não é propriamente uma novidade. Há muito o Caderno B, que era referência cultural no país, deixou de pautar a imprensa e um fiapo dos demais meios de comunicação.

Há muito também, a reforma gráfica empreendida por Amílcar de Castro, na década de 50, uma revolução à época, mas que foi envelhecendo ao longo do tempo, sem ganhar renovação, tornou-se obsoleta e ortodoxa feito uma caixa de “Maizena”. Uma prova é que o JB, com todas as modernidades à vista, seguia sendo composto em linotipo com péssima aparência gráfica.

O jornal foi fundado em 1891, ou seja, está no limiar de seus 120 anos. Em 1893, assumiu como redator-chefe, nada mais nada menos que Rui Barbosa, o velho Águia de Haia, que tempos depois sairia correndo feito a brigada ligeira da redação, tendo em seu encalço o Marechal Floriano Peixoto, que mandou procurá-lo vivo ou morto. O JB ficou fechado por mais de um ano.

Foi sob a direção de Alberto Dines, hoje membro da esquerdalha lulo-petista, que o Jornal do Brasil publicou uma previsão do tempo genial um dia após o Ato Institucional Número 5 ser decretado, em 13 de dezembro de 1968. Dizia o texto: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O país está sendo varrido por fortes ventos. Mínima – 5 graus, no Palácio Laranjeiras. Máxima – 37, em Brasília”.

Quatro anos antes, no entanto, o JB apoiara com entusiasmo o golpe militar.
O Jornal do Brasil envelheceu a olhos vistos, esmagado pelo concorrente “O Globo”, por um lado, e pelos jornais populares, por outro.

Em 2001, a família Nascimento Britto, proprietária do jornal, o arrendou para o empresário Nelson Tanure. O jornal mantinha uma tiragem de 76 mil exemplares mensais. Sob o comando de Tanure, o jornal modernizou-se, adotou o formato “berliner” e atingiu uma tiragem de 100 mil exemplares.

A queda, no correr dos anos seguintes, foi vertiginosa. Hoje, segundo o próprio Tanure, o jornal não roda mais de 20 mil exemplares.

A solução encontrada por Tanure foi fechar a edição impressa e, a partir de 1º de setembro, preservar apenas a sua edição eletrônica. O mesmo deve acontecer com outros jornais pelo país. Já se identificou em vários diários a leitura crescente através da internet. De tal forma, que os setores que mais crescem dentro das próprias redações são o do jornal na web, com informações em tempo real, uso de áudio, imagens e recursos de rede social.

Tanure diz que, com a experiência do “Jornal do Brasil”, encerra sua participação como empresário de mídia. Pudera. Ele é um “Midas Ao Contrário”. Em 2002, comprou os direitos de publicação da revista “Forbes” no Brasil. Um ano depois, a “Forbes” rompeu o contrato. Em 2003, Tanure investiu sobre a combalida “Gazeta Mercantil” e arrendou o jornal. Em seis anos o jornal deixou de funcionar e a marca foi devolvida ao seu antigo dono.

Em 2007, Tanure negociou um contrato com a CNT, da família Martinez, e lançou a JBTV. Como âncora do telejornal da emissora, contratou Boris Casoy. A aventura durou seis meses e causou um prejuízo de, ao menos, R$ 1 milhão. Afora isso, ainda arrendou a Editora Peixes, que chegou a pertencer ao Grupo Abril. Outro barco furado.

De volta ao Jornal do Brasil, tentou resolver o passivo trabalhista que se acumulava no jornal, demitindo o colunista e crítico do lulo-petismo, Olavo de Carvalho. Pensava Tanure que desta forma atrairia a cobiçada propagada oficial do governo Lula. Necas.

A solução foi, então, fechar a edição impressa e tornar o jornal eletrônico. Tanure diz que o leitor terá mais qualidade e economia ao assinar o JB na internet. A edição eletrônica custará apenas R$ 9,90 enquanto a impressa não saía por menos de R$ 49,90. Parece que o mesmo destino aguarda outros jornais em futuro próximo.
Carlos Drummond de Andrade escreveu certa vez: “Cansei de ser moderno. Serei eterno”. O JB também cansou de ser moderno. Será internético.

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