segunda-feira, 21 de junho de 2010

DR. SAMUEL JOHNSON FALOU, DR. SAMUEL JOHNSON AVISOU


Dunga: soberba e "comportamento incompatível" depois da vitória do Brasil sobre a Costa do Marfim.


Luís Fabiano: “Tocar a mão na bola uma vez é falta. Tocar duas vezes, não. É uma nova regra”. Quaquaquá.

O Dr. Samuel Johnson viveu e morreu no século XVIII como dicionarista e como frasista. São dele, máximas como “Não há quem seja hipótcrita nos seus prazeres” ou “Em geral as pessoas se casam sem se conhecer, mas esse é o principal motivo de tantos casamentos”.
Contudo, a frase de Johnson que ganhou o status de hit (e de anônima, por excelência, porque o autor é solenemente deixado de lado) parece ser aquela que diz que “o patriotismo é o último refúgio de um canalha” – sempre atual nas eleições e nas Copas do Mundo.
No domingo, durante a entrevista coletiva da seleção brasileira, o que se viu foi o técnico Dunga, cheio de soberba, confirmando o Dr. Johnson. ao destratar jornalistas e, a certa altura, dizer palavrões que foram captados pelos microfones.
O treinador brasileiro, enfim sorridente, chegou a indagar de Alex Escobar, repórter da Globo: “O que foi? Algum problema aí”. O repórter nem levou adiante. “Não, nenhum, não estava olhando para você”.
O Fantástico exigiu as imagens e expôs os palavrões do técnico. Fez mais: criticou seu “comportamento não compatível”.
Se a Globo não passou dos limites, foi porque detém os direitos de transmissão da Copa do Mundo e teme qualquer retaliação por parte da CBF e da poderosa Fifa.
Mas de Dunga não há o que prospectar. Quando ergueu a taça de campeão do mundo em 1994, o volante botocudo, cuja marca no futebol é o chutão e a matada de bola na canela, cuspiu impropérios que só os que falam português puderam decifrar.
Era mais uma vez o seu desabafo contra o descrédito à seleção de brilho fosco que, quatro anos antes, eliminada nas oitavas-de-final pela Argentina, fracassara sob a batuta de Sebastião Lazaroni e ganhara a pecha de “Era Dunga”.
Dunga venceu a Coréia do Norte, o pior time do ranking da Fifa, por parcos 2 a 1, e a seleção da Costa do Marfim por um placar mais elástico: 3 a 1. Foi o suficiente para se jactar.
Luiz Felipe Scolari, técnico pentacampeão brasileiro, que comentou a partida para uma TV sul-africana ironizou, sem demérito, o segundo gol de Luís Fabiano: “Tocar a mão na bola uma vez é falta. Tocar duas vezes, não. É uma nova regra”. Quaquaquá.
Mais surreal ainda foi o juiz francês ainda ter indagado ao atacante se ele tocara a bola com o braço. Só faltou ele responder em francês e apontar o pescoço (“Le Cou”, na tradução livre).
Enquanto Dunga cantava de galo – e as partidas decisivas sequer começaram – o patriotismo dava as caras nas redes sociais, principalmente no twitter, onde discutiu-se – e muito – a violência dos jogadores da Costa do Marfim em campo. O irônico é que cenas como estas são toleradas até o pote nos estádios brasileiros, mas não podem ser admitidas no torneio mundial porque, afinal, mexe-se com a seleção canarinho e com o nosso peito inflado de patriotismo.
Eu já vi esse filme. Tantas vezes, que me esbaldo. Caso o Brasil saia derrotado do certame, e apostemos que isso não ocorra, lá estará o torcedor brasileiro maldizendo Dunga e toda a sua geração, além dos brazucas milionários que não cultivam o amor à camisa. “São todos uns vendidos”, dirão. Do contrário, se o Brasil sagrar-se campeão, a euforia tomará conta tempo suficiente até que a realidade nua e mal passada assombre nosso dia-a-dia. Só então, estaremos prontos para enfrentar mais quatro anos de longa e sofrida espera até o próximo Mundial.

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