terça-feira, 22 de junho de 2010

EM FUTEBOL NÃO HÁ SANTO


Dunga xinga o repórter da Globo, Alex Escobar, durante entrevista coletiva: a "Besta" de cada um.

Eu sou um daqueles que sinto falta dos anti-heróis no futebol. Anti-heróis que, maldosamente, a pretexto de aliviar a cãibra do adversário, causavam-lhe, na verdade, uma lesão. Pelé agiu assim na Copa de 70. Ao lado dele ou, pelo menos, a uma certa distância, estavam aqueles que batiam sem dó para evitar que um atacante avançasse em direção ao gol
Pelé nunca foi vestal, mas apanhou literalmente em campo tantas e de diversas maneiras, que só sobreviveu porque tinha um físico espetacular, imune aos bicos e as chuteiras com travas de ferro (sim, ferro!).
O que dizer de Garrincha, então, obrigado a tomar injeções para resistir às pancadas dos adversários e, assim, cumprir o calendário de amistosos do Botafogo?
Mas nunca fomos vítimas, tampouco vilões, tampouco santos.. A mais recente polêmica envolvendo o futebol parece colocar essa questão em jogo. Em sua coluna na “Folha de S. Paulo”, Carlos Heitor Cony, sempre naquele estilo ligeiro – ele jacta-se de “matar” um texto em dez minutos – diz que Dunga está sendo tratado como um Judas em Sábado de Aleluia.
Não há técnico da seleção – com exceção de um ou outro (Felipão, por exemplo), que passou ao largo das críticas da imprensa. Outros comeram mesmo o brioche que o diabo amassou. É da profissão. É da mandinga. É da paixão que o futebol atrai. Tanto que devem estar na África por volta de 1.500 jornalistas credenciados, fora os “latinhas” que vão por conta própria ou patrocinados pela CBF.
Kaká, o lesionado Kaká, deu entrevista coletiva nesta terça-feira (22) e tratou de esculhambar o colunista da Folha, Juca Kfouri. “Ele (Kfouri) tem dirigido os canhões para mim, mas não profissionalmente, de uma forma pessoal, direcionada à minha fé em Jesus Cristo. Respeito ele como ateu, mas espero respeito com aquele que professa sua fé através de Jesus Cristo”.
Nem tanto Kaká. Juca Kfouri dedicou uma coluna a colocar em dúvida a lesão no púbis do jogador e a insinuar, segundo informações médicas, que ela pode ser mais grave do que pensam os especialistas, levando-o, quem sabe, a encerrar sua carreira precocemente. Se Kfouri “pecou” foi em uma frase: “O bom menino, disposto ao sacrificio que está fazendo para ter a sua Copa do Mundo inesquecível, não sabe ser mau, e nem deveria tentar, porque alguém castiga”.
Foi só. No mais, essa história de professar a fé ou o que quer que seja está proibido pela Fifa, simplesmente porque ao fazê-lo o jogador discrimina as demais religiões, inclusive os budistas, os israelistas, os muçulmanos e os ateus que não são filhos de Deus.
Quanto à pancadaria propriamente dita do jogo Brasil x Costa do Marfim, Kaká realmente deu uma cotovelada no peito do jogador adversário. Mereceu ser expulso e vai desfalcar a seleção brasileira na partida contra Portugal, considerado o jogo mais difícil do grupo (ainda mais depois do 7 a 0 aplicado pelos lusos na Coréia do Norte).
Houve quem reclamasse do jogo bruto de Costa do Marfim. Houve quem defendesse que a África implodisse e, no seu lugar, fosse criado um estacionamento a R$ 1,50. São pensamentos incompatíveis que tornam os estádios de futebol uma praça de guerra. Tanto no Brasil como no mundo. Sorte que Israel não está disputando a Copa, do contrário sempre haveria alguém defendendo a reabertura dos campos de Treblinka e Auschwitz para que o judenrein (extermínio de judeus) fosse, enfim, concluído.
Futebol faz brotar sempre o pior do ser humano. Dunga não deveria xingar o jornalista da Globo. Despertou a “Besta” que há em si, que afinal não é nenhuma novidade. Se fracassar na Copa, e esperemos que isso não ocorra, a “Era Dunga” será pouco para retratar sua passagem como técnico da seleção brasileira.

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