terça-feira, 11 de maio de 2010

AQUILO NA IMPRENSA DEU NISSO

Não é preciso muita reflexão para concluir o que significou o discurso do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus (DEM), ontem (10), na tribuna da Casa. Choveu no molhado, para dizer o mínimo, e de viés, lançou novo ataque à imprensa, lembrando diretamente ao jornal Gazeta do Povo, que o Ministério Público havia levado junto com a documentação, pastas referentes ao período de Orlando Pessuti como presidente da Assembleia.
A ameaça não foi velada. Justus já havia declarado, em discurso anterior, que ao menos 40 jornalistas da Gazeta estão ou estavam lotados também na Assembleia. Se isso é verdade, é caso para se apurar.
O fato é que os achaques de Justus, ou seja lá como se queira chamar, são uma clara demonstração do "passado negro" da imprensa paranaense. Tome-se como exemplo o caso de Abib Miguel, o Bibinho, o poderoso diretor-geral da Assembleia. Há 30 anos no cargo, era moeda corrente nos corredores da Casa e também nas redações que ele usava de sua influência para fazer todo tipo de negociata, com a anuência dos deputados.
Comenta-se que custeava campanhas, que saldava dívidas de deputados neófitos e que, assim, os tinha sob seu controle. O mesmo ocorria com jornalistas e jornais. Para silenciá-los, Bibiinho e os deputados de ocasião – porque estes iam e vinham, só Bibinho ficava – distribuíam benesses e abastecia os jornais com verbas de comunicação que os fazia calar. A barganha, portanto, era escancarada e não escondia seus objetivos mais sórdidos.
O pastor Edson Praczyc (PRB), um títere de Nelson Justus na Assembleia, que já foi acusado de receber mensalinho do governo do estado, fez insinuações grosseiras recentemente, indagando por que só a Gazeta do Povo denunciava os casos do "Diário Secreto" enquanto os demais jornais se calavam. Trata-se de uma bazófia, por óbvio. Há repercussão nos demais órgãos de imprensa, mas se Praczyc queria insinuar alguma coisa talvez estivesse se dirigindo ao setor de imprensa da Assembleia, onde é fato sabido que há jornalistas que acumulam cargos de assessores de deputado e outros que são responsáveis pelo "Jornal da Casa" (acredite!).
Na segunda-feira, ao ouvir o discurso destemperado de Justus e os comentários absurdetes de deputados, jornalistas discutiam à boca pequena meios de noticiar o que ali estava sendo dito sem que melindrassem parlamentares que os tem na folha de pagamento. É a nossa terrível realidade.
Há quem enxergue na série de reportagens da Gazeta do Povo intenções outras que não aquelas publicadas no jornal desde março deste ano. É uma teoria da conspiração sem fundamento. O jornal decidiu levar adiante a sua anunciada independência, porque sabe que, sem ela, não sobreviverá no mercado editorial. Isso não quer dizer que a Gazeta já não tenha sido um "capacho" das vontades editoriais de governos e governantes. Mas mudou. Pelo menos é o que se constata. E é a única boa notícia nesse miserê da mídia empresarial.
Quanto ao que foi dito por Justus no dia de ontem (10), há pouco ou quase nada a comentar. A sua tentativa de relacionar a devassa na Assembleia autorizada pela Justiça a um "estado de exceção" ou aos "tempos de terror" é cômica.
Justus clamou pelo espírito de corpo, que está mais para "espírito de porco", dos deputados e fez um apelo que não deixou dúvidas: "conto e preciso do apoio dos deputados. Esqueçam posições politiqueiras para cumprir com esses compromissos". Isso não foi um pedido, foi uma ordem. Com a devida ameaça "subliminar". Só faltou falar: "Eu sei de tudo". Pois pode ser apeado do poder porque "sabia demais"
Do lado fanfarrão, o sempre alegre Rafael Greca (PMDB) sublinhou frase de efeito. "A Gazeta não é do Povo, mas o GAECO é do Povo", referindo-se ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público. O que isso quis dizer? Nada, nadica de nada.
O deputado Antonio Anibelli (PMDB), brucutu encarregado por Justus de proibir o acesso de fotógrafos e cinegrafistas na Assembleia, também deixou sua marca: "Nosso parlamento foi ofendido por pessoas que pessoalmente usaram e abusaram do poder". A primeira impressão é que o peemedebista foi despido e violado. Não foi o caso. E dá engulhos imaginar algo parecido.
A Justus coube ainda, como não poderia deixar de ser, o desfecho clássico, de fachada democrática: "Irei lutar permanentemente contra o linchamento público, que seja o início de transformação e transparência". Uma transparência, diga-se, que Justus anuncia há mais de três anos, mas que até agora ficou só no verbo. O "lorde" é mesmo patético.

2 comentários:

CARLA KARPSTEIN 11 de maio de 2010 às 11:20  

A troca de informações entre governantes e governados se dá sempre num tripé: organizações políticas (lato sensu), mídia e cidadãos. Em um mundo ideal (ou do Ridley Scott) os jornalistas seriam andróides milionários com tempo e ausência de pré conceitos que poderiam apenas emitir opiniões sinceras acerca dos fatos reais acontecidos. Mas, infelizmente ou não, vivemos no mundo real onde os governantes são escolhidos pelo povo (a democracia é o pior dos regimes, fora todos os outros, já diria aquele)e onde os jornalistas precisam sobreviver. Não acredito em independência da mídia; sempre servirá a algum senhor e isso não é pejorativo, já que esse senhor poder ser aquele que merece ser servido.Também manipulo fatos em benefício daqueles que me pagam, mas princípios básicos devem ser mantidos, sem exceções. Jamais defenderia um pedófilo ou estuprador,por exemplo.E generalizar as pessoas e situações é sempre perigoso (a unanimidade é burra, diria também aquele).A verdade é sempre melhor que uma bela mentira (menos no caso da sua mulher perguntar se engordou...),mas linchamentos morais são sempre um perigo. Naquele mundo ideal, a mídia se esforçaria diariamente para ensinar o Seu Zé lá do Mato Rico a votar, por todos os meios disponíveis. Falaria do poder do voto como quem fala da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Mas essa já é outra história.. (acho melhor fazer um blog pra mim, né)? Abraços, caríssimo.

Anônimo 21 de maio de 2010 às 17:57  

RRAAArrhhhh!! Achei você Marcus! O Blog "Política em Debate" é uma piada (sem graça) sem você. Agora vou poder xingar alguém que gosto de ler! Por que não é você que escreve aquele Blog? Abraço. To feliz!

Ass Sucelso, seu maior fã que te odeia.. (adora), sei lá...

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