segunda-feira, 10 de maio de 2010

NELSON JUSTUS E O IMPLACÁVEL MR. GOOGLE

O mandado de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, comandado pelo Ministério Público do Paraná, no sábado (8), fez com que o presidente da Casa, Nelson Justus (DEM), divulgasse, através da Diretoria de Comunicação, uma nota em que referia-se aos tempos de ditadura e à instalação de tribunais de exceção. Cômico, para dizer o mínimo.
Estava claro (claríssimo) que Justus (Justíssimo), um dos principais implicados no escândalo dos Diários Secretos, faria da comissão de sindicância um "teatro do absurdo" para atender seus interesses.
Justus diz, sempre através da Diretoria de Comunicação (que mudou de chefe, mas não mudou de estilo), que tem colaborado "de maneira inequívoca" com o MP, enviando cerca de meia tonelada em documentos.
Pois bem. O MP diz o contrário. Afirma que a Assembleia, através de seus diretores, vem obstruindo as investigações e deixando de enviar documentos solicitados. Não por acaso, a busca e apreensão levada a cabo no sábado por 80 policiais e uma dezena de promotores, encheu uma kombi (daquelas usadas para transportar a torcida do Paraná Clube) com papéis, pen drives, discos rígidos e arquivos da gráfica da Casa. Não por acaso, a devassa levou a mais nove prisões, entre elas a do ex-diretor administrativo José Ary Nassiff, que havia sido libertado um dia antes, e a do diretor da gráfica, Luís Carlos Monteiro, responsável pela impressão dos "diários avulsos", que escondiam nomeações e atos secretos da Assembleia. Outras 13 pessoas estavam sendo procuradas pela polícia.
O caos que toma conta da Assembleia deve levar os títeres de Nelson Justus a ocupar a tribuna da Casa nesta segunda-feira (10) para falar da transparência que vem sendo implantada no legislativo estadual, desde que Justus (Justíssimo) assumiu o comando em 2007. O incauto ou até um marciano poderia julgar verdadeiros os argumentos, não fosse a possibilidade de buscar informações no Mr. Google, o Santo das Picaretagens Perdidas.
Vamos nos ater a uma entrevista do presidente Nelson Justus, publicada na "Gazeta do Povo" em 24 de dezembro de 2007, ano de sua primeira gestão.
Bom, Justus assumiu a presidência, em fevereiro daquele ano, prometendo dar total transparência à Casa. Dez meses depois, o único compromisso cumprido foi o da TV Sinal, uma aberração que consome milhões anuais e que limita-se apenas a transmitir as sessões da Casa de segunda a quarta. A de quinta é solapada e a das comissões permanentes, desprezada. Detalhe: a TV entrou no ar apenas no dia 22 de dezembro daquele ano, último dia de "trabalho" parlamentar. À época, o deputado Antonio Anibelli (PMDB), hoje responsável por impedir o acesso à Assembleia de fotógrafos e cinegrafistas, reclamou:

"Só para copiar o Congresso Nacional querem expor deputados a viagens ao interior de última hora, às vésperas do Natal, quando as estradas estão congestionadas. Não se pode exigir que os deputados fiquem aqui votando até o dia 22. Estamos mudando a nossa maneira de trabalhar só para ceder ao que a imprensa quer".

"Eu como avô (sic) vou ser obrigado a sair na véspera de Natal e correr para comprar um presente para o meu neto".

Quaquaquá. O mesmo deputado brucutu alegou que impediu os profissionais de imprensa de adentrar o legislativo porque estavam mal vestidos. Vocês já repararam no estilo fashion de Anibelli?
Pois Justus fez deste e de outros parlamentares (Edson Praczyc, Luiz Carlos Martins) escudos para deter o assédio da imprensa.
Na nota, divulgada no sábado, Justus diz que a Assembleia iniciou um "processo de transparência e corte de gastos" em 2007 e que tal processo tem permitido maior controle do legislativo estadual por parte da sociedade paranaense. Bullshit.
Mas deixemos que Mr. Google responda:
O painel eletrônico deveria ser licitado, o que não ocorreu. Acabou sendo alugado em caráter emergencial. Custo: cerca de R$ 100 mil mensais. Justus ainda prometeu criar uma Escola do Legislativo, cujo objetivo é nebuloso, mas que gerou a contratação de novos funcionários, sempre a peso de ouro.
Em 2007, a Assembleia não publicava sequer a Ordem do Dia e os textos dos projetos de lei na internet. Justus disse que seria para já. Nunca foi.
O presidente da Assembleia também prometeu divulgar, na web, o Diário Oficial da Casa. Quem esperou, cansou.
O deputado disse ainda que iria manter as sessões de quinta-feira, alegando que com a TV Sinal, os parlamentares viriam para a sessão e haveria "quórum". Como já foi dito anteriormente, a TV Sinal só está autorizada a transmitir a programação a partir do meio-dia. Portanto, babau sessão de quinta-feira, que acontece pela manhã.
Perguntado sobre o corte de gastos na Assembleia, outra bandeira de sua gestão, o presidente da Assembleia descartou a possibilidade da medida atingir a aposentadoria complementar dos deputados, que renderá R$ 10 mil mensais. "A verba para o fundo previdenciário já estava carimbada, desde o mandato anterior" (quando o presidente era Hermas Brandão). Disse mais: "Tenho convicção de que (o fundo) é constitucional, legal e moral". E engorda, o bolso.
Ei, Nelson Justus, porque a lista de funcionários da Assembleia não é divulgada? "Cada deputado age como quiser e cada um divulga como quer. As pessoas têm direito de saber quem são os funcionários que ocupam cargos públicos. No meu gabinete, sabe-se quem trabalha para mim".
(A saber: a lista de funcionários foi divulgada em 2009. Justus fez da entrega do Diário da Assembleia à imprensa um ato solene e comentou em tom de prece: "Queira Deus que tudo esteja aí". Não estava).
E o nepotismo? "Só haverá demissões quando houver uma lei, o que não é o caso" (a lei viria, mais tarde, na forma da súmula vinculante do STF e Justus foi obrigado a demitir seu sobrinho).
George Orwell escreveu na fábula "A Revolução dos Bichos" uma frase emblemática fixada num cartaz pelos porcos que haviam tomado o controle da fazenda: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros".
Justus a parodiou: "Não se pode admitir que todos sejam iguais perante a lei, menos os parentes". Um desfecho perfeito, que antecipou o que viria.

P.S.: A "Gazeta do Povo" precisar explicar, sob pena de macular sua imagem, que história é essa de que 40 funcionários do jornal foram ou são funcionários da Assembleia (copyright Nelson Justus)? Com a palavra, please.

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