terça-feira, 27 de abril de 2010

NÃO FAÇAM ALELUIA COM O PAPEL PICADO DE BIBINHO

A mídia nacional noticiou, ainda no sábado, a prisão de três ex-diretores da Assembleia Legislativa do Paraná e de outros sete acusados. Na casa de Abib Miguel o ex-todo poderos diretor-geral da Casa, foram encontrados R$ 50 mil, uma máquina trituradora de papel e muitos documentos destruídos. Talvez, para a polícia, o resultado seja catastrófico. Nem tanto, eu diria. Há que se aprender com a ex-Alemanha Oriental.

Em 1990, quando o Muro de Berlim foi ao chão, foram encontrados em uma das sedes da Stasi, a polícia secreta alemã, quinze mil sacos grandes de papel picado. Estavam ali documentos e, principalmente, fichas coligidas durantes os anos do regime comunista contendo informações de praticamente toda a população.

Nos anos que se seguiram, a Alemanha unificada concedeu o direito legal a todo cidadão de obter acesso à sua ficha policial, como também a de seus parentes mortos na prisão, em sessões de tortura ou tentando fugir para o lado ocidental de Berlim.

Criou-se então um escritório de Administração dos Arquivos da Stasi, onde funcionários, com a paciência de dar inveja a monges chineses, estão reconstruindo as fichas, montando-as pedacinho por pedacinho. O relato desse episódio da história alemã está no livro "Stasilândia" da australiana Anna Funder, publicado no Brasil pela Companhia das Letras e parte integrante da coleção "Jornalismo Literário".

Anna entrevistou o diretor do escritório, Herr Raillard, e também vários funcionários que dedicam-se ao trabalho. Em uma das passagens, ela conta que a ficha com maior número de pedaços dividia-se em 98 partes. O trabalho consiste em remontar o documento e enviá-lo ao departamento de Justiça para futuras reparações ou indenizações. Há um programa de computador que poderia fazer o trabalho mais rápido, mas que também demandaria mais custos. Outro senão: para efeitos judiciais, os documentos devem ser apresentados na forma original. Daí o trabalho de montar a fichas e colá-las com fita adesiva.

Aqui, no Paraná, o exemplo poderia ser seguido pela polícia judiciária no caso de Abib Miguel, o popular Bibinho. Basta boa vontade, paciência e alguns rolos de durex para que a verdade dos documentos rasgados ou triturados pelo ex-diretor da Assembleia venham à tona. Fica a sugestão, como também a contribuição histórica e literária.


 

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