terça-feira, 20 de abril de 2010

MIGUEL SANCHES NETO É O “SALIERI” DE DALTON

Com parcimônia (e muito saco), respondo a leitor neste blogo, que eu nem imaginava mais visitado, a respeito de crítica cítrica que fiz sobre o livro “Chá das Cinco Com o Vampiro”, de Miguel Sanches Neto (post abaixo). A polêmica ganhou força por causa de reportagem publicada em “Veja”, cujo título (“Inimigos para sempre”, se bem me recordo) não deixa dúvidas. Miguel Sanches é crítico eventual da revista. Um bom crítico que escreve esparsamente (quando bem editado). Daí a ganhar espaço para o lançamento de seu livro eis um passo.
Mas o interesse editorial, nesse caso, era compreensivo. Miguel Sanches lançava um livro que, antes, recusara ou, ao menos, congelara. Mudou de ideia ao longo dos últimos anos (o manuscrito é de 2002-2003), por uma razão. E ela está no frontispício, a página em que, volta e meia, os escritores deitam citações.
No caso de Miguel Sanches, o escolhido foi o Marquês de Vauvernagues (1715-1747), grafado incorretamente no livro como Vauvenargues, que compunha máximas para o deleite da corte francesa pré-revolução, entre as quais a que foi impressa:
“Procuramos às vezes os homens que nos impressionaram por sua aparência, como jovens que seguem apaixonadamente um mascarado, tomando-o pela mulher mais linda do mundo. Atormentando-o até obrigá-lo a descobrir-se e fazer com que percebam que se trata de um homem baixinho de rosto preto e de barba.”
Ao longo dos anos, Miguel Sanches Neto roeu-se internamente por ser furtado da presença do escritor Dalton Trevisan, que admirava desde que leu “Cemitério de Elefantes”. Não se conformava com o fato de Dalton, sucesso de crítica, mas não de público (quem lê no Brasil?), ser um recluso, avesso a jornalistas e distante de qualquer círculo literário que Miguel Sanches frequentava.
A certa altura, Miguel Sanches conseguiu romper essa barreira através de um amigo comum. Soube que Dalton costumava frequentar certa cafeteria no centro de Curitiba, e travou-se a amizade.
Dalton segue uma rotina. Costuma escrever por hora e meia diariamente e depois empreende suas caminhadas. Antes, elas seguiam um padrão. Agora não mais. Dalton elabora roteiros diferentes a cada dia para fugir dos curiosos e das fotografias. O último a registrar uma imagem dele foi um fotógrafo da Folha de S. Paulo. Sabedor que ele costuma visitar a Livraria do Chaim aos sábados para apanhar encomendas de livros e recados de amigos, postou-se por três horas junto aos pilares da Universidade Federal do Paraná, que permite a visão de quem entra e quem sai da loja, e conseguiu flagrar o escritor. Na foto, ele aparece com um boné simples vermelho e uma jaqueta presenteada por sua filha. Carrega uma sacola de supermercado, provavelmente contendo livros, e anda cabisbaixo.
Dalton, ao perceber a presença do fotógrafo, escapou por um estacionamento e desapareceu por uma rua transversal, lépido como um vampiro.
A foto foi parar em uma edição da “Folha Ilustrada” juntamente com uma reportagem escrita pelo jornalista Dimitri do Valle, e chegou a ser contestada em uma comunidade do Orkut. Afinal, aquele homem era ou não era Dalton Trevisan? À época consultei amigos do escritor e eles confirmaram a autenticidade da foto.
Tive acesso ao livro de Miguel Sanches Neto em 2005, através de uma cópia pirata. De cara, achei-o horrível, ofensivo e, pior, mal escrito. Miguel remeteu o original para a Record, que também edita os livros de Dalton, de Cristovão Tezza e também editava os do próprio Sanches, e ela recusou-o. A razão era simplória: o livro tinha “chaves de leitura”. Ou seja, os nomes fictícios eram explicitamente ligados a pessoas conhecidas no Paraná. A saber: Dalton Trevisan, Wilson Martins, Valêncio Xavier, entre outros.
Mas isso não era o mais grave. Longe disso. “Chá das Cinco Com o Vampiro”, enfim publicado pela Objetiva, é o livro que Miguel Sanches Neto usa para destilar sua inveja. Miguel está para Dalton Trevisan da mesma forma que Antonio Salieri está para Wolfgang Amadeus Mozart. No caso deste último, ao menos na lenda.
O escritor, que vive em Ponta Grossa – cidade cujo viajante é recebido com um monumento ao cocô – passou longo tempo idolatrando Dalton Trevisan. Quando Dalton soube que ele tencionava escrever sobre o assunto e rechaçou-o, Miguel tratou de descontruí-lo, como se ele fosse um velhinho libidinoso e pedófilo. As primeiras páginas do livro dizem tudo. O nome do personagem principal, fictício, é abandonado logo no primeiro capítulo. Ele passa a ser tratado, então, como Vampiro, a alcunha de Dalton Trevisan em Curitiba e também do protagonista de muitos de seus contos, o Nelsinho.
A partir daí, Miguel ataca impiedosamente o escritor, cujo único desejo foi se manter recluso e longe das câmeras fotográficas. Façamos-lhe a vontade. O autor de “Chá das Cinco”, no entanto, não pensa assim. Quer revelar o Dalton marqueteiro. Aquele que se projeta, contraditoriamente, na insistência de manter-se anônimo e, secretamente, regozija-se com as críticas que são publicadas sobre sua obra e sua condição de eremita literário.
Escritores reclusos, contudo, não são propriamente uma novidade. Rubem Fonseca, por exemplo, é um deles. Recentemente surgiu, de boné, tal como Dalton, em um lançamento de um livro de uma escritora extravagante. Talvez a idade tenha feito com que ele reavalie seus conceitos e exponha-se mais.
Nos EUA, o número de escritores que não se expõem é corriqueira. J.D. Salinger, morto recentemente aos 91 anos, é um exemplo. Ele não só se tornou um recluso como também deixou de publicar livros. O cadeno “Mais” da Folha de S. Paulo publicou, em 25 de abril de 2004, uma edição curiosa em que inventou entrevistas de mentiras com escritores reclusos. Entre eles, estava Thomas Pynchon, cujo único registro é uma foto de ginásio, Salinger, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Herberto Helder, J.M. Coetzee e Julien Gracq.
Em nota cifrada, no twitter Miguel Sanches Neto (@miguelsanchesnt), disse que meu ataque era leviano. Não serei eu que o contestarei. Deixo isso a cargo do leitor e de quem acompanha suas crônicas ruins de dar dó na Gazeta do Povo. Tal como Dalton Trevisan, ele também ensaiou haikais. Constrangedores. Eu sugeriria a ele o título de um novo livro: “Coisas Para Não Fazer Antes de Morrer em Ponta Grossa”. Mas é muita maldade.
Não se trata de ataque pessoal. Trata-se de ataque à ruindade. Como disse, certa vez, Dorothy Parker, “Chás das Cinco com o Vampiro” não é um livro para ser deixado de lado, mas atirado bem longe.
Humildemente, Dalton Trevisan confidenciou a um amigo que sofria com os pontos e vírgulas. Miguel Sanches Neto sofre com o léxico em geral. E não se dá conta disso.
Ao “Rascunho” – jornal literário de Curitiba – Miguel Sanches Neto afirmou que doaria os direitos do livro “Chá das Cinco” a uma instituição de caridade. Espero que a “hiena papuda” (copyright Dalton Trevisan) cumpra ao menos essa promessa. Ou será um novo beijo do Judas.

2 comentários:

Anônimo 14 de setembro de 2010 às 22:58  

Qual a razão do ataque descabido e leviano à cidade de Ponta Grossa?

Taska Antunes 17 de setembro de 2010 às 16:59  

Nenhum. Viva Ponta Grossa!

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