terça-feira, 5 de outubro de 2010

DEIXE DILMA DEFENDER O ABORTO


Campanha contra o aborto, supostamente da CNBB, rejeita o voto em Dilma Rousseff no primeiro turno.

O que pode haver de errado no fato da presidenciável Dilma Rousseff (PT) defender a descriminalização do aborto, se é isso que rege o programa do partido aprovado em congresso? Fugir do tema e insinuar que tudo faz parte de uma intriga urdida por adversários para desestabilizar sua candidatura é mais do que mera figura de retórica.

O aborto é uma questão polêmica? É. Mas muitos países tornaram legal a prática, mesmo enfrentando os protestos de ligas católicas e protestantes.


Dilma defendeu o aborto em 2007, durante sabatina na "Folha de S. Paulo", e no ano passado em entrevista à "Marie Claire".

Dilma era defensora do aborto em 2007 quando participou de sabatina na “Folha de S. Paulo”, e também no ano passado (logo ali) quando deu entrevista à revista “Marie Claire”. Dizer que mudou de ideia agora é, no mínimo, uma jogada eleitoreira que não garante, a quem nela depositar o voto, o recuo estratégico tão logo se assente no poder.

O deputado pimpão e secretário de Comunicação do PT, André Vargas, foi um dos que tentaram empurrar, literalmente, com a barriga, o tema explosivo ao acusar José Serra (PSDB), antes do primeiro turno, de ser o responsável por introduzir nos postos de saúde a “abortiva” pílula do dia seguinte.

Falácia eleitoreira. Quando Serra assumiu o Ministério da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso, a adoção da pílula já ocorrera.

Se Vargas necessita de uma evidência que trate de mirar no próprio governo Lula. Foi sob o guarda-chuva petista que o ministro José Gomes Temporão (Saúde) autorizou, em janeiro de 2008, a prefeitura do Recife, por sinal petista, a distribuir a “pílula do dia seguinte” nos postos de Saúde, durante o Carnaval.

Na época, a secretária da pasta, Tereza Campos, tachou a iniciativa como um “direito da mulher”. Mas não considerou, assim como Temporão, que o público preferencial seria de jovens e adolescentes. Mais: que o uso da pílula estimularia o sexo sem proteção, abrindo as portas para as chamadas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).

O aborto enquadra-se em outra esfera de uma questão que tem vários lados. Se o programa do PT é pró-descriminalização da prática do aborto e a candidata a presidente é uma de suas entusiastas, que trate de sustentar suas convicções e não escondê-las sob o tapete como fez no caso Erenice Guerra.

Só os mais velhos lembram de um debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo em que o mediador Boris Casoy indagou ao então neófito Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus. A resposta de FHC: “Nós combinamos que essa pergunta não seria feita”. Na obrigação de responder, enrolou-se todo, ficou com a marca de ateu e foi derrotado pelo ressuscitado Jânio Quadros. Em 1994, candidato a presidente, FHC cedeu aos marqueteiros e surgiu contrito, rezando em igrejas evangélicas, católicas, budistas e até em terreiros de macumba.

Há quatro anos, foi a vez de Geraldo Alckmin, acusado de privatista no segundo turno, exibir-se com uma camisa que lembrava os uniformes de pilotos da Fórmula 1, cheia de logomarcas das estatais brasileiras. Em vez disso, seria mais salutar eleitoralmente que apontasse os benefícios da privatização, a começar pela telefonia, que tirou o país da pedra lascada da Comunicação em menos de um ano. Do contrário, estaríamos ombreando Cuba no quesito internet (discada a carvão).

O irônico na argumentação de André Vargas é ver que ele se isenta rapidamente ao admitir a defesa da descriminalização do aborto incluída no programa do partido. “Nós nos deixamos levar por um grupo de feministas, só eu e outro fomos contra”.

A senadora eleita Gleisi Hoffmann (PT) já se mostrava preocupada em trazer à tona a questão, mesmo antes do primeiro turno. De nariz arrebitado, fruto de uma plástica que deixou seu rosto semelhante ao da boneca Barbie, Gleisi sentenciou: o tema “pode custar a presidência da República”.

Isso não significa, entretanto, que não deva ser discutido. Deve sim. E que Dilma Rousseff assuma a comissão de frente do debate. Do contrário, há evidências em profusão que hão de contradizê-la. E quem a viu em debates francos e abertos, sabe que ela se enrola facilmente. Imagine se resolver ir contra suas convicções diante das câmeras.

2 comentários:

Anônimo 5 de outubro de 2010 às 18:15  

O pior é que eu que sempre fui a favor que o aborto deixe de ser crime, estou a partir de hj proibida de ter opinião. Inclusive fui acusada de fazer o jogo da direita. Como se eu fosse filiada a algum partido, devesse satisfações ou subisse no palanque com a UDR, o Sarney ou o Collor. Vão orar e me errem.
Claudia Wasilewski

Anônimo 5 de outubro de 2010 às 19:50  

Nao seria melhor (e mais barato), defender a concientizaçao e proteçao sexual??
Pois a impressao que se tem é a da defender o aborto libera geral...

Ou seja, no Brasil oque importa é que tudo continue sempre no oba-oba...

LeX.

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