POR QUE APOIAMOS DILMA? (E A CULPA É DE DANIEL DANTAS)
Mino Carta (esq.) e Lula: se for preciso ele come a estrela do PT com farinha. Lula fica com a cachaça.
O editor-proprietário da revista CartaCapital, Mino Carta, que, no entanto, não é um capitalista, resolveu publicar um editorial de apoio à petista Dilma Rousseff. Nada contra. Muito pelo contrário. Por mim, todos os órgãos de comunicação deveriam fazer o mesmo. No caso dos jornais, em letras garrafais com fundo preto e letras brancas. No caso das emissoras de TV, em editoriais assépticos, desodorizados, cheios da palavra democracia e, se possível, narrados por Cid Moreira.
O New York Times, mesmo jornal onde ainda batuca suas linhas, o jornalista Larry Rother – ameaçado de expulsão por Lula – costuma dedicar um editorial, ao menos, ao candidato de sua preferência, seja à prefeitura, ao governo ou à presidência. E o indicado é, na maioria das vezes, um Democrata. Faz parte da tradição.
Já no Brasil, costuma-se comprar jornais e fazer com que eles sirvam aos interesses deste ou daquele político, principalmente no Nordeste, onde bigodeia a família Ribamar e onde os Collor exibem seu saco roxo – ambos em apoio a Dilma.
A única vez que vi uma revista de grande circulação declarar apoio explícito a um candidato a presidente foi em 1994, quando a Exame, do grupo Abril, o fez em favor de Fernando Henrique Cardoso.
Desta vez, é a CartaCapital quem se apressa a levantar a bandeira da candidata petista, mesmo com seus parcos 30 mil exemplares de circulação semanal. De qualquer maneira, uma atitude elogiável.
Se há algo a contestar é o de que a revista de Mino insiste em ver apenas na “guerrilheira” Dilma a representante legítima de oposição à ditadura. “Menas” companheiro. Serra, Marina Silva, Alberto Goldmann (governador de São Paulo), e o pré-candidato ao Senado, Aloysio Ferreira (PSDB-SP), entre outros, estiveram na trincheira. Serra foi presidente da UNE, exilou-se no Chile. Dilma parece ter ficado por aqui, usufruindo provavelmente dos US$ 3 milhões de dólares encontrados no cofre do Dr. Rui (codinome da amante de Adhemar de Barros).
Cristóvão Tezza em seu livro semi-biográfico “O Filho Eterno” conta que chegou a receber, em Lisboa, onde se encontrava em conflito existencial, notas de US$ 100 enviadas de um parente que participava do movimento guerrilheiro. Suspeitava ele que o dinheiro era produto do roubo.
Outro erro substancial de Mino é ver naqueles que fazem oposição ao governo ou são contrários à eleição de Dilma, um saudosismo dos tempos da ditadura e da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade. Haja simplismo.
Mino não expõe os motivos que fizeram Dilma deixar o Ministério das Minas e Energia e realocar-se na Casa Civil, nem faz ilações sobre o seu antecessor, conhecido como José Dirceu, o chefe do mensalão, que responde a acusações no STF, incluindo corrupção ativa.
O editor-chefe da revista prefere enxergar – e não precisa de binóculo – a lealdade demonstrada por Dilma em relação ao governo Lula, inclusive no caso do dossiê de gastos com cartão corporativo montado nos computadores da Casa Civil e utilizado para atingir Fernando Henrique Cardoso e dona Ruth Cardoso.
Se não bastasse, Mino ainda vê espasmos de bom humor no governo Lula em circunstâncias as mais variadas. Talvez na visita a Mahmdud Ahmadinejad, no Irã, ou na recente passagem pela Guiné Equatorial , onde visitou o ditador Nguema Mbasogo, no poder desde 1979, e ainda disse que o país respeita a democracia e os direitos humanos. Lula é mesmo um pândego.
Para completar seu raciocínio vivaz, cultivado ao longo de décadas, Mino tilinta ainda a frase que deveria ser impressa em bronze na entrada da redação da revista. “Vinga o talento de um estrategista político finíssimo”. Atenção: ele se refere a Lula e não a si mesmo, ainda que seja dado ao cabotinismo.
Mino diz ainda que é mais fácil engolir a estrela do PT, ainda que com farinha e uma dose cavalar de cachaça, do que a bola de ferro do tucanato e que, olhando de soslaio, Serra não seria um membro do PSDB, mas teria de atuar sob a sua batuta. Arre!
O editor de CartaCapital não perde a chance de alfinetar o vice de Serra, o deputado federal, Índio da Costa (DEM-RJ), quando os tucanos sonhavam com Aécio Neves, porém deixa de lado a questão do peemedebista Michel Temer, de quem os petistas já cunharam o slogan: “Com Dilma não há o que Temer”.
Mino diz que apesar do apoio a Lula, em 2002, a Lula, em 2006, e a Dilma, em 2010, não deixou de apontar as falhas do governo. Seja na política ambiental ou na política econômica. Aliás, Mino tem uma reclamação recorrente, capa de nove entre dez de suas edições e tema de qualquer piada de salão envolvendo a revista: o envolvimento do banqueiro Daniel Dantas em qualquer operação da Polícia Federal que possa ter sido desencadeada, nos últimos anos, do Oiapoque a Chauí. Mino só não deixa claro se é a favor ou não da expulsão de Cesare Battisti do país, mas quanto ao apoio a Dilma, os laços de convicção são fortes e duradouros. “Não nos arrependemos (antes) por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.”
LINK DO EDITORIAL COMPLETO DE MINO CARTA NA REVISTA "CARTACAPITAL"
http://gleisi.com.br/site/blog/por-que-apoiamos-dilma/
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