MANDELLI, MINHA CASA, MINHA VIDA

Cinco anos depois de preso, o "rei dos desmanches" no Paraná, Paulo Mandelli, é hoje um próspero construtor cadastrado no programa "Minha Casa, Minha Vida" do governo federal.

Durante dois anos, o empresário Paulo Mandelli foi o bandido mais procurado no Paraná. Investigado pela CPI do Narcotráfico que passou pelo estado, em 2000, Mandelli figurava no topo da lista. Preso cinco anos depois em esconderijo manjado pela polícia, em Caxias do Sul (RS), cumpriu pena e foi solto. Mas ainda responde por quatro processos: formação de quadrilha, receptação qualificada, associação delituosa e sonegação fiscal.

Mandelli era conhecido como o "rei do desmanche" e acusado de receptar carros roubados, inclusive pela polícia. Mas de uma hora para outra virou construtor. E melhor: foi credenciado pelo governo federal e agora ergue casas para o programa "Minha Casa, Minha Vida". Esperava-se que os empreiteiros cadastrados tivessem que apresentar "ficha limpa" para se habilitarem a receber dinheiro federal. Que nada.

Estamos falando do governo Lula, onde mensaleiros, aloprados e sanguessugas permanecem na base do governo, ocupam cargos na administração e estão cotados, caso do chefe do mensalão, José Dirceu – denunciado no STF – a ocupar um ministério em um eventual governo Dilma Rousseff.

Mandelli, dizia-se, pertencia à mesma turma (não usemos a palavra quadrilha) do ex-secretário de Segurança Pública, Cândido Martins de Oliveira – hoje um próspero fazendeiro – que em uma cena cômica, captada pela câmera do SBT e do repórter fotográfico da Gazeta do Povo foi flagrado, em 2000, em completa bebedeira, cruzando um sinal fechado e atropelando um motoqueiro (sem gravidade, diga-se). Entrevistado e evidentemente alcoolizado, ele negou-se, a princípio, a fazer o teste do bafômetro e foi levado para a delegacia. Lá, assoprou o aparelho que atingiu os píncaros de Baco. Um parêntese de humor em denúncia escabrosa.

Na reportagem sobre o caso Mandelli publicado,, no domingo, na Gazeta do Povo, o Ministério Público do Paraná alega que não conseguiu concluir os processos contra Mandelli, Candinho (o nome de guerra de Martins de Oliveira) e outros dos 104 nomes citados no relatório final da CPI do Narcotráfico por falta de estrutura. No twiiter, o promotor Fuad Faraj, lotado atualmente em Almirante Tamandaré ou "Anibalândia", como ele mesmo chama, fazendo referência ao falecido deputado Anibal Khury, contesta a afirmação e diz que a estrutura da PIC (Promotoria de Investigações Criminais) poderia, sim, levar a cabo os processos. Se não o fez, foi por falta de vontade política ou administrativa.

O fato é que Paulo Mandelli, com passagem na polícia e no xilindró, segue, risonho e sacudido, prestando serviços para o Minha Casa, Minha Vida. E olhe, se tudo der certo, um dia vira ministro de Estado. Não se admire, portanto.