terça-feira, 4 de maio de 2010

A DITABRANDA, A DITA MÍDIA E “DILMINHA PAZ E AMOR”


Dilma fala na Expo-Zebu: um doce para quem decifrar o que a ex-guerrilheira quis dizer.

Ex-terrorista, coisa que não pode riscar de seu currículo, a petista Dilma Rousseff decidiu apoiar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de confirmar a anistia para todos, o que inclui os que pegaram em armas de um lado e, de outro, os militares que participaram de torturas ou assassinatos nos porões da ditadura.

Se Dilma corrobora com essa ideia, deve corroborar, a essa altura também. com o termo "ditabranda", tão combatido no ano passado por intelectuais petistas, que viram no editorial da Folha de S. Paulo, onde a palavra ressurgiu, uma prova de cumplicidade com o regime de exceção. Como diria Lula, "menas" companheiros.

O.k. Jânio de Freitas chamou a atenção, em artigo publicado no domingo passado (2), para a diferença entre o Estado policialesco institucionalizado e aqueles que agiram clandestinamente para combatê-lo. Mas há que se considerar que, a certa altura dos acontecimentos, durante a chamada distensão do governo Geisel, estabeleceu-se um pacto. Freitas diz que esse pacto foi feito entre militares e militares, sem considerar as vítimas. Não é verdade. Houve sim, um acordo. De tal maneira, que em 1979, ainda sob o governo João Baptista Figueiredo, os exilados puderam retornar ao Brasil e os presos políticos foram liberados das penitenciárias brasileiras. Não sem antes ensinar aos presos comuns técnicas de guerrilha que levariam à organização de células nos presídios e daí ao crime organizado, personificado por dois de seus principais grupos: o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).

O pacto adotado no Brasil não é propriamente uma novidade. No regime nazista, por exemplo, ex-criminosos de guerra retornaram aos seus cargos burocráticos, tão logo a Alemanha declarou a sua rendição. Os poucos que passaram por julgamentos, foram sentenciados a penas brandas, de 3 a 5 anos, que sequer cumpriram. Há um relato sobre isso em "Eichmann em Jerusalém" de Hannah Arendt.

Da mesma forma, os judeus de ascendência alemã que participaram do Conselho de Anciãos e foram incumbidos da missão de selecionar cidadãos de mesma origem para a deportação aos campos de extermínio, acabaram, com a cumplicidade do Estado de Israel, esquecidos nos processos e, salvo exceções, retornaram às suas vidas sem que lhes pesasse qualquer tipo de acusação.

Para quem não se recorda, a Folha de S. Paulo utilizou o termo "ditabranda" em editorial por uma questão aritmética. As vítimas da ditadura no Brasil foram progressivamente menores do que as de países vizinhos como a Argentina e o Chile. O termo, aliás, não é novo. Foi usado diversas vezes em estudos acadêmicos e só ganhou contornos "revanchistas" aos olhos do esquerdismo diletante.

Há que se lembrar, com uma ponta de ironia, que diante da fúria de intelectuais uspianos, um tal Movimento dos Sem Mídia (MSM), reuniu na frente da sede do jornal, no centro da capital paulista, uns 200 gatos pingados para protestar contra o editorial.

Movimento dos Sem Mídia pressupõe um outro lado: o Movimento dos Com Mídia. Certamente, os manifestantes não estariam erguendo faixas e gritando palavras de ordem se a tal mídia, em vez de independente, estivesse a serviço do governo, como quer o chavismo bolivariano. Como já afirmou a colunista Dora Kramer, recentemente, o governo Lula fez com que toda crítica ao governo ou aos seus apaniguados seja encarado como um crime de lesa-pátria. Triste.

Em Curitiba, artigos publicados nos jornais só corroboraram essa tese, sem dar a devida dimensão ao problema nem colocar em xeque o que ali se configurava: um ataque à liberdade de imprensa. E, convenhamos, o editorial em questão é de responsabilidade do próprio jornal e não da redação, que mantém sua independência. É assim que age, por exemplo, o New York Times, ao declarar apoio a este ou aquele candidato à presidência, sem interferir, no entanto, na cobertura política. Isso nunca afetou sua credibilidade. Muito pelo contrário.

Mas se a polêmica foi instalada, no ano passado, Dilma Rousseff já se encarregou de esfriá-la. Ao tomar conhecimento da decisão do STF, a petista considerou a decisão acertada. Ora, em diante, assim como José Serra, ela segue participando de cultos religiosos (apesar de sua descrença) e deve bater à porta do Clube Militar tão logo seja convidada. Quanto ao seu passado de guerrilheira e artífice do roubo do cofre do ex-governador de São Paulo, Adhemar Barros – até hoje considerado o maior golpe terrorista da história – a campanha eleitoral se encarregará de passar-lhe uma borracha.

Dilma, assim como Lula, é agora "Dilminha Paz e Amor".

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