segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A GLOBO, QUEM DIRIA, FOI REZAR NA UNIVERSAL

EM UM EPISÓDIO da novela "A Favorita", da Rede Globo, o gay Orlandinho (Iran Malfitano) aplica uma surra daquelas em dois sujeitos que cortejaram sua esposa de fachada, a ex-pobre Céu, interpretada por Deborah Secco. Foi o primeiro indício de transformação do personagem. Até o fim da novela, um milagre será operado (e não será em Marrocos) e Orlandinho deve se converter em macho, donde se provará a tese do bispo Edir Macedo – inimigo público número 1 dos Marinho – de que só os heterossexuais merecem o céu.

Orlandinho, o gay convertido: só os heterossexuais
merecem o céu.



Por linhas tortas, a novela de João Emanuel Carneiro, que ganha sua fase decisiva em janeiro, parece ter invadido o palco da Universal em seus capítulos derradeiros, com propósito semelhante: exorcizar personagens e protagonizar rituais de "sai capeta" tais como os comandados pelos bispos de Macedo nas madrugadas da TV Record – a principal concorrente da Globo.



O folhetim, a princípio, tinha a proposta de confundir o telespectador partindo de falsos estereótipos. Donatella (Cláudia Raia), a perua ricaça, personificava a vilã. Flora (Patrícia Pillar), a ex-detenta que cumprira 18 anos na cadeia acusada de assassinato, a vítima inocente. A certa altura, Carneiro decidiu desfazer o enigma e mostrar, didaticamente, que nem todo membro "dazelite" é mau e nem todo maltrapilho é bom, como quer o discurso simplório do lulo-petismo. O problema é que o mesmo mecanismo que detonou a transformação das protagonistas da novela aos olhos do telespectador, estendeu-se também para os demais personagens.



Gonçalo, o empresário chauvinista interpretado por Mauro Mendonça morreu com a pecha de "bom burguês". Irene (Glória Menezes), a mulher de Gonçalo, que mostrava-se tão desapegada e dada a atos filantrópicos no início da trama, mostra sinais de preconceito ao apontar os maus predicados culturais de Halley (Cauã Reymond), o neto e único herdeiro da fortuna amealhada pelo marido. O político corrupto interpretado por Milton Gonçalves foi para a cadeia e, pasme o leitor, dá pinta de converter-se e recuperar o amor do filho – bêbado remediado – e da filha, uma deslumbrada militante que, purificada, vende cachorro quentes na rua ao lado do ex-sogro.



O "culto religioso" de João Emanuel Carneiro reserva ainda espaço para a expiação da bandida perigosa, Diva (Giulia Gam), agora preocupada em cuidar do filho e de retomar a vida ao lado do hiponga abilolado José Mayer, e pode até transformar a personagem de Elizângela, dona do bordel da cidade de Triunfo e seqüestradora do bebê de Donatella, em uma espécie de Madre Tereza de (Oh) Calcutá) nos capítulos finais. Inverossímil? Recorde-se então que esta é a novela em que o mudinho falou, entre outros milagres.



É bom lembrar ainda que o afortunado Halley, que no início da novela aparecia metido em pequenos golpes, transmutou-se em homem de negócios e deve trilhar o caminho do bem de braços dados com a personagem Lara (Mariana Ximenes), com quem manteve um relacionamento incestuoso, devidamente esclarecido em capítulos recentes. Halley, afinal, era filho de Donatella e Marcelo, que era amante de Flora e por ela foi assassinado, enquanto Lara foi o produto do relacionamento de Flora e Dodi (Murilo Benício), com quem Donatella viria a se casar depois. No imbróglio dramático, portanto, os dois pombinhos saem ilesos e sem pecado.



Só não dá para esperar que a redenção e as sessões de "sai capeta" de "A Favorita" atinja vilões convictos como Flora e Silveirinha (Ary Fontoura) nem tampouco a personagem Dedina (Helena Ranaldi), que dormiu santinha do pau oco e acordou devoradora de homens. Há pouca chance também do personagem Leonardo, o bêbado machão e alcoviteiro interpretado por Jackson Antunes, fugir do castigo que lhe reserva: ver a mulher Catarina (Lilia Cabral) seduzida pelos encantos de Stela (Paula Burlamaqui), a lésbica de "A Favorita". Na trilha de arrependidos e convertidos da novela este seria o desfecho mais coerente, porém muito moderninho para os padrões globais. O provável é que Catarina termine a novela só e bem acompanhada. Edir Macedo aprovaria. O telespectador também. Sai Satanás.

2 comentários:

Anônimo 27 de dezembro de 2008 às 17:06  

INTERESSANTE O ARTIGO DO BLOGUEIRO. SERÁ QUE ELE (O BLOGO) TAMBÉM ESTÁ INTERESSADO NA MUTAÇÃO SEXUAL? SEMPRE ME FALARAM DE SEU INTERESSE EXAGERADO PELO TEMA, MAS A PONTO DE INVADIR O ALTEREGO DE CADA PERSONAGEM??? ISSO É QUE É IDENTIFICAÇÃO - E VICE-VERSA!!! A ARTE, NESTE CASO, IMITOU A VIDA (A DO BLOGUEIRO)...

Shirley MacRamos 6 de janeiro de 2009 às 01:25  

Marcus, aposto que voce esta pensando que o advinho anônimo acima sou eu, pois voce sabe que sou da universal.
Mas juro que não fui eu que postei um comentário tão satírico e de tão mal gosto como esse.
Acha que eu iria pensar isto de voce?
Magina...

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