sábado, 18 de setembro de 2010

O QUE A GAZETA QUER?


Despropositadamente, Gazeta brinca com "Alta" do vice José de Alencar: que jornalismo é esse?

O que a Gazeta quer? Não o jornalismo. O que, afinal, é esse arremedo despropositado na coluna “Notas Políticas” deste sábado (18)? “Em alta” o vice José de Alencar. “Em baixa” o presidente Lula. Mas o “Em Alta” refere-se à alta médica que Alencar recebeu no hospital. Um trocadilho miserável fora de contexto, que caberia melhor em uma página de humor, não em um jornal que se quer sério.

E, de longe, com a empáfia que ninguém lhes concedeu, os editores parecem campeões em tudo. Eu vivi tempos mais bicudos. Mais sombrios. Quando éramos submetidos à censura prévia da direção do jornal. Porque também emprestei minha pena ao que era Política e hoje é Vida Pública.

É inevitável. A máxima de Aparício Torelly, o Barão de Itararé, sempre me vem à cabeça: “faço na Vida Pública o que fazia na privada”. Parece que é o caso. E não deveria ser. Porque a editoria goza de liberdade inimaginável.

Eu vi, meninos, eu vi. O empate técnico não existia nas pesquisas. Quando isso ocorreu no embate entre o senhor Alvaro e o senhor Requião, o termo foi suprimido. Ficamos nos números secos. O leitor que tirasse suas próprias conclusões. Porque era-nos proibida qualquer análise, ainda que óbvia. O texto enchia-se de intertítulos por conta dos cortes. E quando ainda havia espaço a preencher, aumentava-se o corpo da letra até o limite do absurdo. Os que quiserem conferir sigam aos alfarrábios.

Nos impuseram um editor-censor. Era ele o responsável pelos ajustes antes que as reportagens e as notas subissem à mesa do inquisidor. Não raro, um ou dois políticos estavam no índex. Nos dias em o censor subalterno se ausentava, eu me encarregava de aguardar o telefonema da gentil senhora secretária e ouvir dela as instruções. As notas eram numeradas pela ordem de “importância” e as matérias corrigidas ao sabor da conveniência e não da informação.

Nos confrontos com o Torquemada da vez eu me via sempre furioso. Ele judiava das vogais, surrava os artigos definidos e, não raro, me colocava em situações embaraçosas quando deixava minha assinatura em verdadeiros tratados de ignorância. Religiosamente eu lia Fernando Pessoa – Álvaro de Campos para ser mais preciso. O jornal não mais, never more.

Quando caminhava para a sede da Gazeta, repetia os versos de “Tabacaria”: “Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”

Notícia, o que era notícia? Quando Candinho, bêbado feito um gambá do Barigui, furou o sinal e atropelou um motoqueiro, foi um alvoroço. Ébrio deu entrevista a um canal local. Ébrio foi clicado por um fotógrafo da Gazeta. Ébrio seguiu ao teste do bafômetro, acusando um índice alcoólico em ponto de combustão. Ébrio causaria inveja a Vicente Celestino.

Mas na Gazeta, o banho de água fria. Tratava-se de um homem público. Portanto, seu nome não seria citado, a foto do manguaça não seria aproveitada e a reportagem migraria da Política para a página policial, perdida entre outras tantas.

Aos poucos, eu só me encorajaria a seguir para o jornal depois de tomar uma dose de “ópio metafísico” que, cedo, se tornaria uma drágea real e palpável.

Do mesmo diretor que, cotidianamente, nos censurava as matérias ou julgava-as insuficientes partiram pérolas como a decisão de publicar uma sentença de juiz sobre o pedágio, com todo aquele linguajar empolado, retirando minha reportagem, mas, oh vida, mantendo minha assinatura. E outra de estupidez, ao tentar melhorar a abertura de uma matéria dominical e imprimir logo nas linhas iniciais: “Como diria Orson Welles em seu ‘1984’”... Welles e George Orwell, certamente, reviraram-se no caixão.

Longe, se vai ao longe. Já em outro jornal, então investido da condição de colunista político, soube da morte do diretor e escrevi um duro obituário, depois aliviado em algumas linhas, para não dar a impressão que “chutava o morto”. Não chutei. Só não guardei luto, o que é bem diferente.

O que se seguiu, depois, foi uma tentativa de acordar o monstro que nunca fora desperto. Repito: e o que quer a Gazeta, agora, se ostenta liberdade, independência e rumos editoriais nunca dantes navegados?

Talvez o ambiente insalubre e inóspito, uma característica do grande salão de almas mortas, tenha afetado os gênios em suas mansardas. Eu sei, “em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”

LINK DA COLUNA "NOTAS POLÍTICAS" DESTE SÁBADO (18)
http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1047875&tit=Lula-ainda-e-duvida

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